Vou recordar para sempre o dia 1 de Dezembro de 2012. Não por já não termos este feriado no próximo ano mas porque foi a minha primeira experiência oficial como autora, neste caso, de haiku.
Para quem não sabe, e citando a Prof. Leonilda Alfarrobinha, "um haiku é um pequeno poema constituído por dezassete sílabas distribuídas por três segmentos métricos de cinco, sete e cinco sílabas (...) É um dos mais notáveis géneros poéticos da literatura universal e, possivelmente, aquele que apresenta a forma de expressão mais breve e concisa".
Apesar da simplicidade na forma, um haiku é dotado de uma essência rica. Este poema "nasce de um acontecimento vivenciado, surge a partir de um momento concreto que se viveu e que impressionou os nossos sentidos e o nosso espírito". Nele, são visíveis determinadas qualidades: "a sensibilidade relativamente à natureza, a delicadeza e o respeito por tudo o que é frágil, o despojamento e a riqueza interior, a sobriedade e o requinte, a leveza proveniente da inconstância e da mudança presentes no mundo".
A iniciativa, intitulada "Haiku - 43 poemas a Lisboa", esteve a cargo da Câmara Municipal de Lisboa, através do Departamento de Acção Cultural, em conjunto com a Embaixada do Japão. Podia escrever-se tanto em português como em japonês, e os poemas seleccionados passariam a fazer parte de um pequeno livro distribuído à entrada do Teatro Turim, o local onde decorreu o evento.
Cada autor leria o seu poema seleccionado. Houve quem tivesse lido outros da sua autoria, falado da sua experiência como escritor, explicado o significado dos seus haiku, enfim. Tal como constatou a Carolina Vargas, a variedade de pessoas naquela sala foi, de facto, o mais interessante desta iniciativa. Quem mais me surpreendeu foi um homem de 85 anos. A tremelicar, subiu ao palco e declamou o seu poema escolhido e mais alguns. A descer, quase caiu. Era de Letras, e só há pouco tempo se tinha deparado com um género de poesia que lhe era desconhecido. Uma pessoa de idade com uma mente aberta. Um exemplo.
Eu arrisquei com um grupo de cinco poemas, dentro dos quais um estava escrito com caracteres. Não vou colocá-lo aqui por o considerar fraco mas apresento-vos os outros:
Sete colinas
Cidade protegida
Pela oração
Casa de fados
Cantam-se os anseios
Há liberdade
Crise! Contudo
Joga-se à macaca
Nesta calçada
Tu abraças-me
De barco ou a sonhar
Amo-te, Tejo
Foi o último da lista que integrou a compilação, e qual foi o meu espanto quando, à chegada, recebi uma folha quadrada que era nada mais nada menos do que a folha do livro com o meu poema ampliada. Escusado será dizer que, a esta hora, a dita cuja já está emoldurada na parede.
Como lembrança, também foi entregue a cada participante um poster da cidade de Kyoto coberta de neve, ou não estivesse a Embaixada do Japão envolvida nesta iniciativa literária. Muito obrigada ao povo nipónico por se mostrar sempre tão generoso neste tipo de eventos.
Estou bastante feliz, orgulhosa e agradecida por ter marcado presença naquela manhã cultural. Sem o apoio e a companhia da minha mãe e da minha irmã, não teria sido tão maravilhoso, por isso, obrigada. E também gostei imenso de ter encontrado a Carolina, cujo haiku foi altamente apreciado. Aproveito para informar que, sobre o mesmo assunto, podem ler a mensagem dela aqui.
Que para o ano haja mais iniciativas que nos encham o espírito e nos coloquem em comunhão com outros povos e outras culturas, é um dos meus desejos para 2013.